Desigualdade
e Estrutura Social
na
Sociedade da Informação
Marco
A. M. Bourguignon
I
O
desenvolvimento tecnológico e o acesso a informação, num mundo cada
vez mais globalizado, vêm fazendo uma transformação radical nos
sistemas de desigualdade. E o conhecimento torna-se significativo para a
estratificação social e a formação do processo de desigualdade.
A
passagem da Sociedade Industrial para a Sociedade da Informação muda o
foco das teorias sobre estrutura e estratificação social.
Mudando todo o processo de desigualdade e de mobilidade social.
Onde o conhecimento torna-se peça chave para o entendimento das
diferenças sociais. O
capital intelectual torna-se moeda corrente para a troca. Nesse foco a educação entra como peça fundamental para a
mudança na estratificação social.
Na
Sociedade Industrial o conhecimento técnico-prático era a principal
porta de entrada e ascensão social. Na Sociedade da Informação o conhecimento teórico e geral
substitui o conhecimento técnico-prático. O indivíduo deve ter a
capacidade de decodificar e filtrar as informações que chegam
continuamente.
A
educação, como geradora e portadora da transmissão do conhecimento,
se transforma na principal chave de mudança.
Aumentando o tempo de escolaridade dos indivíduos. Tendo que
mudar o seu foco de formação técnica e prática, para uma formação
teórica, capaz de desenvolver no indivíduo o aprender a aprender.
Esse
estudo será focado em duas questões:
1 - Estamos passando realmente por um processo de mudança nas
concepções de desigualdade e mobilidade social?
2 - A educação é uma das principais formas de ascensão social
na Sociedade da Informação?
Os
estudos teórico sobre desigualdade social são reflexos das formas de
desigualdade social existentes nas sociedade industrias, conforme a
sociedade moderna começa a sofrer uma profunda transformação, as
teorias da desigualdade também sofreram mudanças e começaram a perder
significação. Ou melhor,
os estudo teórico seguem o caminho da substituição da sociedade
industrial para a sociedade da informação.
Outro
ponto é que o conhecimento entendido como força de ação torna-se
cada vez mais responsável pelo processo de formação das
desigualdades. Para alguns
Cientistas Sociais as classes sociais não constituem mais a formação
das hierarquias, mas sim outros tipos de clivagens sociais.
Uma ilustração disso é que na Sociedade da Informação, os
indivíduos ativos no processo de trabalho industrial representam uma
minoria no conjunto da população.
Há
algumas décadas atrás tinha-se como certo que a sociedade industrial e
o processo de modernização originaria um sistema de desigualdade
social menos hierárquico, refletindo mais de perto as aptidões
individuais e as fronteiras entre as classes bastante pequenas.
Como se pode perceber, o nível de desigualdade aumentou, por
outro lado houve um relativo aumento na perspectiva de vida e bem estar
social, com acesso a saúde e a dispositivos de previdência,
principalmente durante a década de 50 e 60.
No entanto a estrutura de poder e relações de autoridade
torna-se difícil discernir mudanças significativas de ordens
estruturais. Essas mudanças
sociais ocorridas pode ser levadas em contas mais pelas mudanças
estruturais da sociedade, do que como resultado de sucesso alcançados
pelas pessoas ou por mobilidade individual.
Ou seja, a transformação da sociedade industrial na sociedade
da informação trouxe novos alentos estruturais e provocou uma certa
mudança na pirâmide social. A
educação pode ser encaixada como fator determinante para alcançar a
Sociedade da Informação.
A
Educação tem um papel cada vez mais importante na formação da
natureza e da estrutura da desigualdade social na sociedade moderna, mas
isso não significa afirmar que seja um fenômeno novo para o estudo da
natureza da desigualdade. Ela
é uma variedade de competência culturais e aptidões.
A educação sempre teve uma papel importante na determinação
da desigualdade. Por
exemplo a capacidade de ler e escrever na língua dominante de uma nação. O conhecimento das leis e dos procedimentos que regem as
transações, como saber se o religioso influi na posição social de
uma pessoa. Agora conhecer
a tecnologia e saber analisar as informações cria um novo aspecto de
determinação da desigualdade.
Um
aspecto importante da transformação da base da desigualdade social é
o estabelecimento e garantia da cidadania, especialmente de um pacote de
bem-estar social, do qual abaixo não se aceita que a pessoa venha cair.
As
sociedades avançadas estão se tornando cada vez mais "'sociedades
da informação"', as perspectivas multidimensionais da
desigualdade social, não captam apropriadamente as novas realidades
sociais e econômicas. A
maior parte das teorias sobre a desigualdade social é estreitamente
relacionadas com o método de produção industrial, onde hoje se situa
uma minoria de pessoas economicamente ativas.
Cabe também ressaltar o papel primordial que a educação ocupa
nessa sociedade moderna, onde o conhecimento torna-se fundamental para
compreender o bombardeio de informações recebidas pelo indivíduos.
II
No
século XVIII, com a Revolução Industrial, o capitalismo teve um
grande desenvolvimento, dano origem as relações entre o capital e o
trabalho, ficando bem claro a divisão entre as classes proprietárias e
as classes trabalhadoras.
Karl
Marx desenvolveu um teoria sobre a noção de liberdade e igualdade do
pensamento liberal, essa liberdade baseava-se na liberdade de comprar e
vender. Outra muito criticada também foi a igualdade jurídica que
baseava-se nas necessidades do capitalismo de apresentar todas as relações
como fundadas em normas jurídicas. Como
a relação patrão e empregado tinha que ser feita sobre os
princípios do direito, e outras tantas relações também.
Marx
criticava o liberalismo porque só expressava os interesses de uma parte
da sociedade. Segundo o próprio
Marx a sociedade é um conjunto de atividades dos homens, ou ações
humanas, e essas ações e que tornam
a sociedade possível. Essas ações ajudam a organização
social, e mostra que o homem se relaciona uns com os outros.
Assim
Marx considera as desigualdades sociais como produto de um conjunto de
relações pautado na propriedade como um fato jurídico, e também político.
O poder de dominação é que da origem a essas desigualdades.
As desigualdades se originam, de uma forma sucinta, dessa relação
contraditória, refletem na apropriação e dominação, dando origem a
um sistema social, neste sistema uma classes produz
e a outra domina os meios de produção.
As
classes sociais mostram as desigualdades da sociedade capitalista. Cada
tipo de organização social estabelece as desigualdades, de privilégios
e de desvantagens entre os indivíduos.
As
desigualdades são vistas como coisas absolutamente
normais, como algo sem relação com produção no convívio na
sociedade, mas analisando atentamente descobrimos que essas
desigualdades para determinados indivíduos são adquiridos socialmente.
As divisões em classes se da na forma que o indivíduo esta situado
economicamente e socio-politicamente em sua sociedade.
As
classes sociais se inserem em um quadro antagônico, elas estão em
constante luta, que nos mostra o caráter antagônico da sociedade
capitalista, pois, normalmente, o patrão é rico e dá ordens ao seu
proletariado, que em uma reação normal não gosta de recebe-las,
principalmente quando as condições de trabalho e os salários são
precários.
Prova
disso, são as greves e reivindicações que exigem melhorias para as
condições de trabalho, mostrando a impossibilidade de se conciliar os
interesses de classes
A
predominância de uma classe sobre as demais, se funda também no quadro
das práticas sociais pois as relações sociais capitalistas alicerçam
a dominação econômica, cultural, ideológica, política, etc.
A
luta de classes perpassa, não só na esfera econômica com greves, etc,
ma em todos os momentos da vida social. A greve é apenas um dos
aspectos que evidenciam a luta. A luta social também está presente em
movimentos artísticos como telenovelas, literatura, cinema, etc.
O
crescente estado de miséria, as disparidades sociais, a extrema
concentração de renda, os salários baixos, o desemprego, a fome que
atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil,
a marginalidade, a violência, etc, são expressões do grau a que
chegaram as desigualdades sociais no Brasil.
As
desigualdades sociais não são acidentais, e sim produzidas por um
conjunto de relações que abrangem as esferas da vida social. Na
economia existem relações que levam a exploração do trabalho e a
concentração da riqueza nas mão de poucos. Na política, a população
é excluída das decisões governamentais.
Até
1930, a produção brasileira era predominantemente agrária, que
coexistia com o esquema agrário-exportado, sendo o Brasil exportador de
matéria prima, as indústrias eram pouquíssimas, mesmo tendo ocorrido,
neste período, um verdadeiro “surto industrial”.
A
industrialização no
Brasil, a partir da década de 30, criou condições para a acumulação
capitalista, evidenciado não só pela redefinição do papel estatal
quanto a interferência na economia (onde ele passou a criar as condições
para a industrialização) mas também pela implantação de indústrias
voltadas para a produção de máquinas, equipamentos, etc.
A
política econômica, estando em prática, não se voltava para a criação,
e sim para o desenvolvimento dos setores de produção, que economizam mão-de-obra.
Resultado: desemprego.
O
subdesenvolvimento latino-americano tornou-se pauta de discussões na década
de 50. As proposta que surgiram naquele momento tinham como pano de
fundo o quadro de miséria e desigualdade social que precisava ser
alterado.
A
Cepal (Comissão econômica para a América Latina, criada nessa década)
acreditava que o aprofundamento industrial e algumas reformas sociais
criariam condições econômicas para acabar com o subdesenvolvimento.
Acreditava
também que o aprofundamento da industrialização inverteria o quadro
de pobreza da população. Uma de suas metas era criar meios de inserir
esse contingente populacional no mercado consumidor. Contrapunha o
desenvolvimento ao subdesenvolvimento e imaginava romper com este último
por maio de industrialização e reformas sociais. Mas não foi isso o
que realmente aconteceu, pois houve um predomínio de grandes grupos
econômicos, um tipo de produção voltado para o atendimento de uma
estrita faixa da população e o uso de máquinas que economizavam mão-de-obra.
De
fato, o Brasil conseguiu um maior grau de industrialização, mas o
subdesenvolvimento não acabou, pois esse processo gerou uma acumulação
das riquezas nas mãos da minoria, o que não resolveu os problemas
sociais, e muito menos acabou com a pobreza.
As
desigualdades sociais são enormes, e os custos que a maioria da população
tem de pagar são muito altos. Com isso a concentração da renda
tornou-se extremamente perceptível, bastando apenas conversar com as
pessoas nas ruas para nota-lá.
Do
ponto de vista político esse processo só favoreceu alguns setores, e não
levou em conta os reais problemas da população brasileira: moradia,
educação, saúde, etc. A pobreza do povo brasileiro aumentou
assustadoramente, e a população pobre tornou-se mais miserável ainda.
Quando
se fala em desigualdades sociais e pobreza no Brasil, não se trata de
centenas de pessoas, mas em milhões que vivem na pobreza absoluta.
Essas pessoas sobrevivem apenas com 1/4 de salário
mínimo no máximo!
A
pobreza absoluta apresenta-se maior nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Para se ter uma idéia, o Nordeste, em 1988, apresentava o
maior índice (58,8%) ou seja, 23776300 pessoas viviam na pobreza
absoluta.
Em
1988, o IBGE detectou, através da Pesquisa Nacional por Amostra em
Domicílios, que 29,1% da população ativa do Brasil ganhava até l salário
mínimo, e 23,7% recebia mensalmente de l a 2 salários mínimos.
Pode-se concluir que 52,8% da população ativa recebe até 2 salários
mínimos mensais.
Com
esses dados, fica evidente que a mais da metade da população
brasileira não tem recursos para a sobrevivência básica. Além dessas
pessoas, tem-se que recordar que o contingente de desempregados também
é muito elevado no Brasil, que vivem em piores condições piores que
as desses assalariados.
As
condições de miserabilidade da população estão ligadas aos péssimos
salários pagos.
Observou-se
anteriormente que mais de 50% da população ativa brasileira ganha até
2 salários mínimos. Os índices apontados visam chamar a atenção
sobre os indivíduos miseráveis no Brasil.
Mas
não existem somente pobres no Brasil, pois cerca de 4% da população
é muito rica. O que prova a concentração maciça da renda nas mãos
de poucas pessoas.
Além
dos elementos já apontados, é importante destacar que a reprodução
do capital, o desenvolvimento de alguns setores e a pouca organização
dos sindicatos para tentar reivindicar melhores salários, são pontos
esclarecedores da geração de desigualdades.
Quanto
aos bens de consumo duráveis (carros, geladeiras, televisores, etc), são
destinados a uma pequena parcela da população. A sofisticação desses
produtos, prova o quanto o processo de industrialização beneficiou
apenas uma pequena parcela da população.
Geraldo
Muller, no livro Introdução à
economia mundial contemporânea, mostra como a concentração de
capital, combinado com a miserabilidade, é responsável pelo surgimento
de um novo bloco econômico, onde estão Brasil, México, Coréia do
Sul, África do Sul, são os chamados “países subdesenvolvidos
industrializados”, em que ocorre uma boa industrialização e um
quadro do enormes problemas sociais.
O
setor informal é outro fator indicador de condições de reprodução
capitalista no Brasil. Os camelôs, vendedores ambulantes, marreteiros,
etc, são trabalhadores que não estão juridicamente regulamentados,
mas que revelam a especificidade da economia brasileira e de seu
desenvolvimento industrial.
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